Vivemos tempos de incerteza e disrupção. A guerra voltou à Europa, trazendo sofrimento e instabilidade. A crise global desafia as economias, põe à prova os sistemas de proteção social e agrava desigualdades. Ao mesmo tempo, assistimos a um crescente afastamento dos Estados Unidos da ordem internacional que ajudaram a construir, deixando a Europa perante desafios geopolíticos para os quais nem sempre parece preparada.

Mas a história ensina-nos que, nos momentos mais difíceis, é na força coletiva que encontramos soluções. Foi assim em tempos de guerra e reconstrução, em momentos de crise e mudança. Agora, mais do que nunca, precisamos de resgatar e fortalecer os princípios do mutualismo: solidariedade, cooperação e entreajuda.

O mutualismo não é um conceito do passado. É um modelo de futuro. Num mundo onde as instituições parecem cada vez mais frágeis e a lógica individualista revela as suas limitações, o mutualismo apresenta-se como um caminho alternativo e necessário. Não se trata apenas de seguradoras sem fins lucrativos ou associações de beneficência. Trata-se de uma filosofia de vida e de organização da sociedade, em que as pessoas se unem para responder juntas aos desafios que não conseguem enfrentar sozinhas.

Em Portugal e na Europa, há muito que o mutualismo prova o seu valor. No acesso à saúde, na proteção social, na inclusão financeira, na cultura e na educação, as mutualidades e outras organizações da economia social garantem apoios fundamentais a milhões de cidadãos. No entanto, podemos e devemos fazer mais. Não podemos esperar que os governos resolvam todos os problemas, nem confiar que os mercados responderão às necessidades sociais. Precisamos de fortalecer redes de solidariedade, criar soluções inovadoras e reforçar os laços que nos unem.

Ser mutualista hoje significa contribuir para um mundo mais justo e resiliente. Significa apoiar cooperativas e associações que fazem a diferença, participar em iniciativas de apoio comunitário, consumir de forma mais consciente e sustentável. Significa reconhecer que a nossa segurança e bem-estar dependem também do bem-estar dos outros.

Os desafios que enfrentamos são grandes, mas a nossa capacidade de resposta será sempre maior se trabalharmos juntos. A Europa já provou que a cooperação pode superar rivalidades e construir prosperidade. Portugal, com a sua tradição de solidariedade e inovação social, tem tudo para liderar este movimento.

O futuro não se constrói sozinho. Chegou a altura de sermos mais mutualistas. Não apenas por necessidade, mas porque juntos somos sempre mais fortes.

APM