Nos dias 30 e 31 de janeiro de 2024, Bruxelas foi palco de um evento marcante na história da saúde ocupacional na Europa: a Conferência em Saúde Mental e Trabalho, sob a presidência belga do Conselho da União Europeia. O encontro veio em um momento crucial, reforçando a mensagem de que “Está tudo bem, não estar bem”, uma citação inspiradora de Michelle Obama, que ressoa profundamente em nossa coletividade atual. A conferência destacou a urgente necessidade de trazer a saúde mental para o centro das discussões públicas e de transformá-la em uma prioridade em todos os setores da sociedade.
A pandemia de COVID-19 desencadeou uma série de desafios sem precedentes em várias esferas da vida, levando a uma crise de saúde mental que agora enfrentamos coletivamente. Em 2023, a Comissão Europeia publicou uma declaração enfatizando que a saúde mental deve ser tratada com a mesma seriedade que a saúde física e destacou a importância de combater os riscos psicossociais no trabalho.
Um inquérito realizado em 2022 pela Agência Europeia para a Segurança e Saúde no Trabalho revelou um dado alarmante: mais de 44% dos trabalhadores na União Europeia relataram um aumento do estresse no trabalho como consequência direta da pandemia. Isso ressalta a importância de abordar os riscos psicossociais, que têm um impacto significativo na saúde física e mental, podendo levar a problemas como depressão e doenças cardiovasculares.
Durante a conferência, a necessidade de uma abordagem integrada foi fortemente enfatizada, apontando para a importância de um quadro legislativo robusto na Europa. Os participantes sugeriram a criação de uma diretiva europeia especificamente para os riscos psicossociais, enfatizando a necessidade de uma melhor antecipação de crises futuras e a importância do diálogo social.
As conclusões da conferência sublinharam a importância de abordar a saúde mental e o bem-estar em diferentes contextos ao longo da vida. Para criar um ambiente de trabalho favorável à saúde mental, foram identificados quatro pilares principais:
- Estabelecer uma Cultura de Comunicação e Feedback Respeitosa e Saudável: Encorajar um ambiente onde todos se sintam ouvidos e valorizados é fundamental para o bem-estar mental.
- Adotar Políticas e Procedimentos de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI): Um local de trabalho inclusivo e diversificado promove a sensação de pertencimento, essencial para a saúde mental positiva.
- Abraçar o Propósito e Apoiar o Equilíbrio entre Vida Pessoal e Profissional: Reconhecer a importância do equilíbrio entre a vida profissional e pessoal e promover políticas que apoiem esta balança é crucial.
- Fornecer Acesso a Recursos de Saúde Mental: Disponibilizar recursos e apoio em saúde mental, como o portal da Ordem dos Psicólogos em Portugal ou a plataforma global Nilo Health, é essencial para um ambiente de trabalho saudável.
A conferência deixou claro: a saúde mental no trabalho não é apenas uma questão de bem-estar individual, mas um imperativo econômico e social. Através de uma abordagem holística e integrada, podemos não apenas melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, mas também contribuir para uma sociedade mais resiliente e produtiva. A hora de agir é agora, para garantir que o legado da pandemia inclua um compromisso renovado com a saúde mental no local de trabalho.