APM-RedeMutAssociação Portuguesa de Mutualidades, pessoa coletiva n.º 510427820, com domicílio na Rua Júlio Dinis, 160, 8º, no Porto, vem muito respeitosamente, nos termos e para os efeitos da consulta pública ao Acordo de Parceria – Portugal 2030, que enquadra a programação dos fundos da política de coesão da UE, aduzir os seguintes contributos:

Considerando que,

            – O Acordo de Parceria – Portugal 2030 deve dar resposta aos 5 objetivos estratégicos (OP) da UE:

OP1 – Uma europa + inteligente (inovadora, empreendedora, digitalizada e com empresas mais competitivas);

OP2 – Uma europa + verde, que promova a transição energética;

OP3 – Uma europa mais conectada, com uma rede de transportes estratégica;

OP4 – Uma europa mais social, que executa o pilar europeu dos direitos sociais, que promove emprego de qualidade, educação e formação ao longo da vida, inclusão social e igualdade no acesso aos cuidados de saúde;

OP5 – Uma europa mais próxima do cidadão.

– As organizações da economia social pautam a sua atuação por valores comuns como: a primazia das pessoas e a concretização de objetivos sociais, a liberdade de participação; a governança democrática, a solidariedade e o reinvestimento dos lucros na realização de objetivos de interesse geral e desenvolvimento sustentável.

– A Economia Social na europa representa 2,8M de organizações; 13,6M de empregos e 8% do PIB da UE, contribuindo para trabalho de qualidade; inclusão; inovação; proteção social; crescimento sustentável; solidariedade; coesão social; igualdade de género; transição ecológica e participação democrática.

Defendemos que as organizações da Economia Social, por serem organizações de pessoas, que desenvolvem atividade com as pessoas para as pessoas, sem nunca perder de vista os princípios e valores pelos quais se regem e o sentido de missão que as orienta, pela sua proximidade e inserção nas comunidades locais, devem ser parceiras privilegiadas do Estado Português na concretização do Portugal 2030, auxiliando a realização dos objetivos da União Europeia.

Não é possível recuperar Portugal e convergir com a UE, assegurando maior resiliência e coesão, social e territorial, sem a intervenção do setor social.

Neste sentido, e porque as potencialidades da ação das organizações da Economia Social são transversais aos diversos objetivos estratégicos, podendo, não só, contribuir para uma europa mais social e mais próxima do cidadão, mas também, mais competitiva e sustentável, defendemos que deve ser criado um programa operacional temático específico para a Economia Social, que abarque todos os investimentos que são necessários fazer no setor para o tornar mais digital, mais sustentável, mais qualificado e ainda mais inclusivo.

A criação de um programa operacional temático específico para a economia social será um sinal, claro e inequívoco, da valorização deste setor por parte do Estado Português e do alinhamento de Portugal com o reconhecimento efetuado pela Comissão Europeia através do lançamento do Plano de Ação Europeu para a Economia Social.

Caso não venha a ser adotado um programa operacional temático específico para a economia social, então é preciso incluí-la especificamente nas ações que mobilizarão cada um dos Programas Operacionais – Temáticos e Regionais. Desde logo nas iniciativas de qualificação, digitalização e capacitação do tecido produtivo, contantes do OP1.

É preciso investimento na transformação dos modelos de prestação de bens e serviços desenvolvidos pelas organizações da economia social tendo em vista a inserção destas entidades na economia digital.

Com efeito, de um inquérito sobre transição digital que realizamos às nossas associadas resultou o seguinte:

  1. É necessário dotar as associações de mais e melhores meios tecnológico (computadores, tablets, programas de software informáticos, de gestão, mas também de segurança, etc…) que permitam maior eficiência na prestação dos serviços, bem como a digitalização de procedimentos administrativos com impacto na qualidade.
  2. Apenas 41,2% utilizam meios digitais para subscrição de modalidades de benefícios
  3. 64,7% privilegia o contacto pessoal / telefónico com associados e utentes
  4. 70,6% utiliza formulários em papel (apesar de dar acompanhamento digital)
  5. Faltam meios digitais nos serviços prestados fora das instalações físicas, designadamente nos serviços de apoio domiciliário
  6. É, ainda, necessário investimento em plataformas colaborativas que fomentem o trabalho em rede e o aumento da interconexão entre as associações.
  7. Apenas 5 associadas permitem a subscrição de produtos on-line
  8. apesar de 15 das associadas que responderam ao inquérito serem prestadoras de serviços de saúde, apenas 7 dispõem de marcação de consultas por meio digital: 50% online e 28,5% por email
  9. Apenas 3 associadas (20%) já disponibilizam aos associados teleassistência/consultas online
  10. A maioria das associadas refere não possuir nem meios tecnológicos nem recursos humanos com competências para o efeito, mas gostaria de vir a possuir

Também no que respeita ao OP2 e às ações que concretizarão a transformação verde é necessário garantir que serão abertas linhas de financiamento que impulsionem a eficiência energética destas organizações, onde há muito ainda por fazer do ponto de vista da implementação de fontes de energia mais sustentáveis.

Do mesmo modo, no que respeita ao OP4 – Portugal mais social, reconhecendo que a qualificação dos trabalhadores e a formação ao longo da vida é tema central do desenvolvimento do país, urge medidas nesta área para o setor social.

É essencial valorizar os recursos humanos das instituições sociais e qualificá-los.

Considerando, que a nível nacional e europeu, a prioridade se centra na transição digital e que as carências do setor nesta matéria são imensas, APM-RedeMut defende que é necessário e urgente implementar formação em competências digitais para colaboradores, voluntários e associados, a qual, face aos diferentes graus de competências, deve ser realizada em diferentes níveis.

Segundo dados do inquérito realizado no início do mês de novembro às associadas, apurou-se que cerca de 68% dos colaboradores tem dificuldades digitais

  • Competências digitais:
    • 26,1% dos colaboradores têm muita dificuldade
    • 42,2% dos colaboradores têm alguma dificuldade
    • 31,6% dos colaboradores têm extrema facilidade

No âmbito deste inquérito apurámos, ainda, que é necessário:

– formação digital específica relacionada com a ciber segurança e

formação digital/tecnológica em matérias especificas relacionadas com a telemedicina e teleassistência especialmente dirigida aos recursos humanos que trabalham na área da saúde e do apoio social.

Do inquérito resultou também que subsiste uma percentagem significativa de trabalhadores com baixa escolaridade, sem o 12º completo. Pelo que, consideramos relevante a possibilidade de a formação ministrada contemplar a dupla certificação (de competências profissionais e académicas)

  • Trabalhadores com habilitações inferiores ao 12º – 32,64% (252 num universo de 772)

A contribuição das organizações da economia social é extremamente relevante para alcançar o objetivo estratégico OP4 também na sua dimensão de reforçar o acesso, em tempo útil, a serviços de qualidade sustentáveis e a preços acessíveis. O setor social é, com larga tradição histórica, um ator complementar das funções essenciais do Estado, na saúde, na educação e no apoio social.

Sobretudo na área da saúde, todos os intervenientes serão poucos para os desafios que o SNS enfrenta no esforço de inovação tecnológica que se impõe realizar. É preciso dar cumprimento à Lei de Bases da Saúde e envolver todos os parceiros na estratégia para a criação de um sistema de saúde mais resiliente e capaz de responder às crises.

Para o efeito, é preciso requalificar equipamentos de saúde e de apoio social. A linha de financiamento que constava da programação do PO ISE para este fim, e que nunca abriu para o setor social, deve ser contemplada no âmbito do futuro quadro comunitário.

APM