O dia 26 de setembro corresponde, no calendário litúrgico romano, ao dia de São Cosme e São Damião, os santos padroeiros da profissão farmacêutica. Em 1989, a data foi instituída como o Dia Nacional do Farmacêutico, pese embora na véspera se assinale também o Dia Mundial do Farmacêutico, cujas comemorações são promovidas pela Federação Internacional Farmacêutica. Outros países do mundo, como o Brasil ou a Austrália, por exemplo, comemoram a efeméride noutras datas, mas em Portugal ficou definido que o Dia do Farmacêutico seria o dia de São Cosme e São Damião.

A profissão está maioritariamente concentrada nas farmácias comunitárias (cerca de 60%), mas assiste-se cada vez mais a uma valorização dos profissionais farmacêuticos nos vários outros ramos de atividade.

Os farmacêuticos estão presentes de forma transversal em todo o ciclo de vida do medicamento, desde a produção industrial, passando pela distribuição grossista, à farmácia comunitária, estando também no setor analítico, realizando análises clínicas, ambientais, toxicológicas, entre muitas outras.

A sua formação inclui um vasto conjunto de disciplinas, muitas das quais complementares à formação básica e de livre escolha pelos alunos, que visa assegurar um perfil de conhecimentos e competências mais orientado e adequado às exigências atuais da profissão. As Ciências Farmacêuticas são hoje entendidas como uma disciplina ampla e significativamente abrangente, superando em diversos domínios de estudo e intervenção a própria área da Saúde. Ao longo dos anos, em resposta às necessidades e desafios impostos por uma sociedade em constante mudança, os farmacêuticos têm vindo a adaptar-se, enriquecendo-se a si próprios, à sociedade de cujo exercício beneficia e à própria Ciência. É precisamente este largo espectro de atuação, baseado numa formação académica cada vez mais pluri e interdisciplinar, que mais tem contribuído para que o profissional farmacêutico atue hoje em vários domínios profissionais, para além dos tradicionais e que os levam, igualmente, a perspetivar novas saídas profissionais, emergentes, nomeadamente no que concerne aos ensaios clínicos e à formulação de medicamentos inovadores, mas também em nichos de atuação em franco crescimento, como as estruturas residenciais para idosos, as creches, a área forense, a área dos comportamentos aditivos e dependências e em muitos outros domínios ligados à investigação.

A prática da atividade assistencial do farmacêutico centra-se na melhor interpretação terapêutica e diagnóstica no âmbito da elaboração, acompanhamento e otimização dos planos terapêuticos, na execução, interpretação e validação de análises clínicas e de genética humana e na prestação de cuidados de saúde em convergência com o melhor interesse, segurança e resultados em saúde das pessoas. Assim, o principal objetivo do farmacêutico, para a tomada de decisão em contexto de saúde, é o de reduzir o risco de dano à pessoa em contexto de doença. Esse papel inclui uma verificação e revisão terapêutica individualizada e a otimização do regime terapêutico, em que a qualidade, eficácia e segurança da prescrição de medicamentos é avaliada em termos de dose e regime posológico, frequência, contraindicações, interações medicamentosas, potencial para efeitos adversos e outros problemas relacionados com as tecnologias de saúde, bem como iguais objetivos na execução, interpretação e validação de análises de apoio à clínica.

O farmacêutico assume cada vez mais responsabilidades na administração e gestão na oferta da cadeia de valor das tecnologias de saúde, junto da pessoa em contexto de doença, do cuidador e da população em geral. Estas responsabilidades envolvem intervenções diversas em áreas de investigação e desenvolvimento, de regulação, de inspeção, de consultoria, de apoio ao desenvolvimento de novas políticas de saúde, de educação, de informação na promoção da literacia e do uso criterioso dos recursos disponíveis, entre outras. O farmacêutico assume as suas responsabilidades na ciência regulamentar, na avaliação da qualidade, da eficácia e da segurança dos medicamentos e outras tecnologias de saúde, antes da sua introdução no mercado e na monitorização da sua efetividade e segurança pós-comercialização. É, ainda, responsável, pela execução, validação analítica e biopatológica e interpretação das análises clínicas e de genética humana nos momentos associados à prevenção, diagnóstico, prognóstico e monitorização da patologia humana.

Os farmacêuticos portugueses têm pautado a sua intervenção por uma postura colaborativa, procurando soluções para os problemas dos seus utentes, muito especialmente nos períodos de crise como aquele que hoje vivemos. Ao longo do último ano, a profissão tem estado na linha da frente do combate à COVID-19. Desde logo nas farmácias comunitárias, que foram dos poucos espaços que se mantiveram sempre abertos, mesmo no período em que estávamos confinados, enfrentando todo o tipo de dificuldades, mas funcionando como uma espécie de âncora para as pessoas. Deram informação, aconselhamento, contribuíram para tentar restabelecer um menor clima de medo. Conseguiram adaptar-se e continuar a servir as pessoas. E isso deu uma certa confiança aos cidadãos, sobretudo por verem um nível de resposta e prontidão organizado no setor farmacêutico.

Também os farmacêuticos hospitalares reagiram de uma maneira absolutamente notável aos desafios que lhe foram colocados, continuando a apoiar os doentes que precisam de se deslocar às farmácias hospitalares para levantar a sua medicação. Desenvolveram soluções para fazer chegar esses medicamentos aos seus utentes numa fase em que todo o País esteve confinado. A Operação Luz Verde, um serviço gratuito para utentes, permitiu garantir que os doentes recebiam os seus medicamentos sem terem de ir aos hospitais, recebendo-os em casa ou na farmácia que fosse mais conveniente.

Foi ainda criada uma bolsa de voluntários para farmacêuticos e estudantes finalistas de Ciências Farmacêuticas para dar apoio às atividades assistenciais dos profissionais que estavam na linha da frente do combate ao novo coronavírus, bem como à equipa da Linha de Apoio ao Farmacêutico e, mais tarde, para apoiar a testagem nas farmácias comunitárias e laboratórios de análises clínicas.

Nos laboratórios de análises clínicas, em que muitas equipas continuaram a fazer, por exemplo, domicílios no período de confinamento. Destaco também o setor da distribuição farmacêutica, que trabalhou dia e noite. E os farmacêuticos da indústria, naturalmente, que continuaram a manter a produção e a garantir a reserva estratégica nacional de medicamentos, sem reporte de falhas.

É este o nosso ADN. É este o nosso legado enquanto profissão secular. Sempre disponíveis para ajudar o próximo.

Foram também estes profissionais que há mais de 35 anos fundaram o MONAF – Montepio Nacional da Farmácia, única instituição mutualista dos farmacêuticos, com a legítima preocupação de encontrarem as melhores soluções de previdência, podendo assim garantir na idade de reforma uma vida condigna e com qualidade depois de uma longa carreira contributiva e de trabalho.

Miguel Silvestre – Presidente Conselho de Administração do MONAF (com colaboração da Ordem dos Farmacêuticos)

APM