Vários estudos e anos depois de se ter começado a falar na promoção do turismo médico em Portugal, sem resultados globais mensuráveis, é assinado esta quarta-feira o protocolo que atribui aos hospitais privados a responsabilidade da promoção do valioso nicho, em articulação com o Turismo de Portugal, o Health Cluster e a AICEP. Há indicadores de crescimento e o objetivo é chegar a um volume de negócios anual superior a cem milhões de euros em 2025.
Óscar Gaspar, presidente da Associação Portuguesa de Hospitalização Privada, estima que o turismo médico tenha correspondido, em 2018, a cerca de 1% do volume de negócios da saúde privada, ou seja, cerca de 56 milhões de euros.
Dos cinco principais grupos de saúde portugueses, só dois responderam ao JN. O Grupo Lusíadas revelou que recebe anualmente “milhares de clientes internacionais”, especialmente “oriundos dos PALOP, Escandinávia, Benelux, Reino Unido e EUA”, sendo um negócio que “regista um crescimento anual de 32%”. Fonte do grupo acrescentou que Portugal posiciona-se já como destino de excelência “mas carece ainda de desenvolvimento de reputação”.
No Grupo Hospital Particular do Algarve, o negócio cresceu “cerca de 20%” neste verão, encerrando o ano com cerca de 300 pacientes estrangeiros. A maioria procura “exames [ressonâncias magnéticas], cirurgias [hérnias inguinais, próteses da anca e cataratas] e check-ups”, bem como tratamentos como “câmara hiperbárica e a vaporização da próstata com laser”. A maioria chega via “site, mas também através de email”, beneficiando da “boa reputação, qualidade dos recursos humanos e pela tecnologia” por que somos conhecidos, ainda que sejamos “pouco competitivos em preços”.
Oito anos de estudos
Há quase oito anos que o cluster da Saúde, a Associação Empresarial de Portugal, os hospitais privados e públicos, os hotéis e as termas e o Governo andam em grupos de trabalho, elaboram relatórios com recomendações e objetivos e nada aconteceu. Espanha arrancou com um projeto em 2013 e, em dois anos, aumentou a faturação deste nicho, de 140 para 500 milhões de euros.
“Há muita dificuldade em conseguir que todos trabalhem juntos”, admite Joaquim Cunha, diretor executivo do Health Cluster Portugal. “Nem conseguimos que enviassem os dados de cada grupo de saúde a uma entidade isenta, um Banco de Portugal ou um Instituto Nacional de Estatística, que trabalhasse os dados sem divulgar informação de negócio, mas que nos desse a perspetiva do valor e do progresso da promoção do turismo de saúde em Portugal”, diz.
A crise de 2011 e “os problemas no Serviço Nacional de Saúde de lá para cá” também não ajudaram a impulsionar a ideia de “vender saúde aos turistas, quando nem para nós temos”, justifica. A ideia, conforme o primeiro estudo sobre o assunto, era ocupar a capacidade instalada nos hospitais e rentabilizá-la para benefício do SNS. Por falta de estratégia, são os privados que vão aproveitando.
Projetos parados
O projeto Medical Tourism in Portugal recebeu mais de um milhão de euros em fundos europeus, em 2016, para internacionalizar o turismo de saúde. Foi criado o sitemedicaltourisminportugal.com/, houve sessões de apresentação do projeto a nível nacional e pouco mais. O site não é atualizado há mais de um ano (Caldeira Cabral, ali apresentado como ministro da Economia, saiu em outubro de 2018 do Governo).
Site ao abandono
De acordo com o Turismo de Portugal, na apresentação de julho do ano passado ao Parlamento, os sites do ecossistema digital de promoção externa publicitam os festivais de música, as ondas, viver em Portugal, os eventos, os percursos pedestres, os caminhos de fé e o ambiente empresarial. O site de turismo médico, financiado por fundos europeus, em 2014, não é promovido e está ao abandono há alguns anos.
Marcas dispersas
“Oportonity to Feel Well” (Porto), “Medical Center of Portugal” (Covilhã) ou Medical Port (privados) são exemplos de muitas marcas que tentam vender o mesmo lá fora.
2 Relatórios
Em 2014, a AEP e o Health Cluster criaram um documento estratégico para o turismo de saúde. Um grupo interministerial desenvolveu plano de ação. Em 2016, foi nomeado um coordenador nacional para Projetos Inovadores em Saúde, para implementar plano de ação.
Plano apontava para 160 milhões em 2020
O primeiro estudo sobre este segmento calculava que Portugal poderia faturar 160 milhões de euros em 2020 com o turismo de saúde. Em 2018, o negócio rondaria apenas 56 milhões.
Fonte: JN